sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

ORIGENS


 
Ali estavam as paredes imponentes rudes e toscas, resistentes à erosão dos anos, da casa onde germinaram todos os meus sonhos.

Transpiravam suor acre-doce, das raízes da memória dolente a venerarem o passado.

Amores e desamores, derrotas e vitórias, aos ombros derreados do velho gigante do tempo, de cabelos imaculados de sabedoria.

Eu, sentado à janela de sacada, debruçado no parapeito da melancolia, com olhar rasgado, sobre a imensidão daquele vale a segredar-me, lendas e preces, onde crepitam histórias de vidas a perder de vista, entrecortado pelo bailado das águas cristalinas do rio, ora manso ou feroz, mensageiro de abundância, ou fome, esculpido nos rostos encortiçados, pela labuta e angústia, que é a incógnita da generosidade divina das colheitas.

Folheio os dias desbotados, afagando-os com mãos de mundo, gretadas pela enxurrada da saudade a diluir-se, por entre os dedos finados de ânsia.

Repouso sentado à soleira do tempo, embalando histórias de uma travessia, que se eclipsou em cinzas deste peito, escavado por uma lânguida recordação.

Agora já só restam páginas impercetíveis, no rumorejar da saudade.

 

 

DIOGO_MAR

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

VAZIO


 
É numa febril melancolia de um horizonte corroído pelo pesadelo da ausência, que desfalece este rio esmagado pelas margens, neste peito sofrido e agastado, onde brota um caudal de palavras fosforescentes em candelabros de solidão austera, onde palidamente resta o cintilar dos cristais de um indecifrado livro da memória, alojado no empoeirado arquivo da alma.

Desenho na sombra dos dias a volúpia de um amor idílico, despojado de qualquer sacrilégio, submerso num pranto de lágrimas a derramarem-se na soleira de uma saudade perfumada de amargura demolidora e longínqua.

Ó, amor!!!

 

DIOGO_MAR