quarta-feira, 17 de maio de 2017

UMA QUESTÃO DE ATITUDE



A geração dos meus pais não foi uma geração à rasca.
Foi sim uma geração com capacidade para se desenrascar.


Numa terriola do Douro as condições de vida não eram as melhores.
Mas o meu pai António não ficou de braços cruzados à espera do Estado ou de quem quer que fosse para se desenrascar.


Veio para o Porto, aos 14 anos, onde um seu irmão, um pouco mais velho, o Artur, já se encontrava.
Mais tarde veio o João, o irmão mais novo.


Apenas sabendo tratar da terra e do pastoreio, perdidos na grande e desconhecida cidade do Porto, lançaram-se à vida e aos grandes desafios que tinham pela frente, longe dos seus Pais e restante família.
Porque recusaram ser uma geração à rasca fizeram uma coisa muito simples.

Foram trabalhar.

Não havia condições para fazerem o que sabiam e gostavam.
Não ficaram à espera.


Foram ferreiros, taberneiros, carvoeiros, trabalharam na construção civil.

moldaram o ferro, fizeram milhares de bolas de carvão ergueram prédios e serviram milhares de copos de vinho ao balcão.

Foram simples empregados de tasca.
Mas pouparam.
E quando surgiu a oportunidade estabeleceram-se como comerciantes no ramo.


Cada um à sua maneira foram-se desenrascando.

Porque sempre assumiram as suas vidas pelas suas próprias mãos.

Porque sempre acreditaram neles próprios.
E nós, eu e os meus primos, nunca passámos por necessidades básicas.


Nós, eu e os meus primos, sempre tivemos a possibilidade de acesso ao ensino e à formação como ferramentas para o futuro.
Uns aproveitaram melhor, outros nem tanto, mas todos tiveram as condições que necessitaram.
E é este o exemplo de vida que, ainda hoje, me norteia e me conduz.


Salvaguardadas as diferenças dos tempos mantenho este espírito de garra.

Não preciso das ajudas do Estado.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.


Não preciso das ajudas da família que também têm as suas próprias vidas.

Não preciso das ajudas dos vizinhos e amigos.
Porque o meu pai e tios também não precisaram e desenrascaram-se.


Preciso do meu elevado e exigente grau de profissionalismo.

Preciso de mim.
Só de mim. E por isso, não sou, nunca fui, de qualquer geração à rasca.
Porque me desenrasco.


Porque sempre me desenrasquei.

O mal desta autointitulada geração à rasca, é a incapacidade que revelam:

Habituados, mal-habituados, a terem tudo de mão beijada.

Habituados, mal-habituados, a não precisarem de lutar por nada, porque tudo lhes foi sendo oferecido.

Habituados, mal-habituados, a pensarem que lhes bastaria um canudo de um qualquer curso dito superior, para terem garantida a eterna e fácil prosperidade.

Sentem-se desiludidos!
E a culpa desta desilusão, é dos "papás", que os convenceram que a vida é um mar de rosas, ao tratá-los como se fossem flores de estufa, de forma principesca.


Mas não é!

É altura de aprenderem a serem humildes.

É altura de crescerem mentalmente e olharem para as adversidades de forma audaciosa e irem à luta.

É altura de se tornarem responsáveis e fazerem opções.

Podem ser "encanudados" de qualquer curso, mas não encontram emprego "digno".

Podem ser "encanudados" de qualquer curso, mas não conseguem ganhar o dinheiro que possa sustentar, de imediato, a vida que os acostumaram a pensar ser facilmente conseguida.

Experimentem dar tempo ao tempo, e, entretanto, deitem a mão a qualquer coisa.

Mexam-se, façam-se à vida!

Trabalhem!

Sacrifiquem-se!

Ganhem dinheiro.
Na loja do Shopping.
Porque não? aaahhh porque é doutor...
Doutor em loja de Shopping não dá status social.
Pois não, temos pena. Mas dá algum dinheiro.
E logo chegará o tempo em que irão encontrar o tal e ambicionado emprego "digno".


O tal que dá status.

O meu pai e tios trabalharam na construção civil, fizeram bolas de carvão, venderam copos de vinho e trabalharam o ferro.

Eu, que sou Jornalista, locutor, relações públicas, em alturas de aperto, fui vendedor, dei explicações, fui DJ etc.
E garanto-vos que sou hoje muito melhor e mais reconhecido socialmente, que se tivesse tido a papinha toda feita, como esta geração que em vez de prioritariamente se preocuparem em moldar o corpo deviam-se empenhar a trabalhar sim o cérebro.
Geração à rasca?

Vão trabalhar que isso passa.

Cresçam, façam-se a vida, tenham objetivos.

Deixem de ser plásticos e artificiais.

Abdiquem dessa fome voraz pelo materialismo.

Tenham valores, personalidade e carater.

Sabem o que isso é?

Pois, infelizmente não!

À rasca, mesmo à rasca, também já tenho estado.
Mas vou a casa de banho e passa-me!!!


 DIOGO_MAR



Sem comentários:

Enviar um comentário